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Com cerca de trinta anos, a Carl Dreyer era-lhe dada a primeira oportunidade na realização. A Nordinsk Films propôs-lhe a adaptação de um romance de Karl Franjos e Dreyer, num primeiro movimento em direcção ao seu realismo, decide prescindir dos actores da companhia e escolher um cast, composto de actores profissionais e amadores, com base nas características físicas e traços de rosto. Daqui nasce Praedisenten um melodrama sobre a culpa e o remorso assente no mecanismo do flashback.
Se por um lado este mecanismo tolda abertamente a dinâmica de conjunto da obra, por outro há espaço para fugir à tragicidade clássica que parecia anunciada no final do primeiro recuo temporal: esperamos que o juramento de Victor, em não casar, como o pai, com uma mulher de condição inferior, redunde na perdição trágica do protagonista. Antes, sucede meia perdição, mas dada também ela em flashback, partindo Dreyer para um outro conflito moral: o pai juiz tem de salvar a filha ilegítima, vítima da sua deserção no passado, da pena de morte por acusação de infanticídio. Percebe-se por esta altura o desvio e a `colagem` a uma paternidade volátil a que foi sujeito na infância.
Com uma fluência narrativa que as suas obras imediatamente seguintes não demonstrariam, Praedisenten é, pelo seu universo, o mais típico Dreyer deste primeiro período. Uma personagem que em confronto com o institucional assume a necessidade de manter uma posição moral perante esse antagonismo global. Como o demonstram os planos das crianças a brincar nas ruínas e o retorno a essa ruínas para o suicídio de Victor no final, há um contraponto desperançado entre a integridade moral e a desintegração material. A afirmação de que a lei natural sai ilesa se puser em causa a institucionalidade das decisões. Por isso, Victor decide suicidar-se evitando a sua perdição moral, mas também o escândalo judiciário.
Ainda quanto a essa noção de antagonismo do mundo, tal convoca o isolamento dos heróis de Dreyer. Estes estão sós ante um universo julgador de instituições e tradição. É nesse isolamento de Victor, de D?arc, de Jesus, de vigário em Prastankan, que se afirma e se molda então a sua dimensão santificadora.
Verificamos já em Preasidenten, mas também em Der Van Engang, a força apaziguadora, quase instintiva, de alguns personagens secundários, norteadores morais inconscientes da acção do protagonista. Aqui, os criados de Victor, enquadrados debaixo de um halo profano de santidade, (de colheres!!) dão força a Victor. A sequência magistral do casamento de Victoire, o único pacífico, tem a assistência e abençoamento desses pequenos santos (revelados num poderoso travelling) e dos seus cães, símbolos de fidelidade.
Rated 4/5 Stars •
Rated 4 out of 5 stars
01/15/23
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Audience Member
It has it flaws, but Dreyer manage to show his great visual talent from the beginning.
Rated 3/5 Stars •
Rated 3 out of 5 stars
02/17/23
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A really fascinating film, the story is one of those morality type movies, the kind you can just sit down, all stoned and just watch the screen. Sweet.
Rated 5/5 Stars •
Rated 5 out of 5 stars
01/31/23
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